por: Dom Volodemer Koubetch, OSBM
Pode-se falar e escrever muito sobre a globalização. É um fenômeno muito complexo e
complicado, porque mexe com todo o globo terrestre, com todo o nosso planeta Terra. A
globalização toca a nossa vida e também a nossa fé cristã e a nossa Igreja. Queiramos ou não.
Estando conscientes disso ou não. Mas o que é mesmo globalização?
Quando se fala sobre globalização, entende-se principalmente o sistema econômico do
mundo atual. Até a queda da União Soviética, simbolizada principalmente pela queda do muro de
Berlim em 1989, existiam dois blocos mundiais, sempre em conflito, em guerra: o capitalismo,
liderado pelos Estados Unidos; e o socialismo, liderado pela Rússia. O socialismo dirigia sua
economia no sistema comunista: uma economia planificada, centralizada pelo governo, pelo Estado,
a quem praticamente tudo pertencia, tendo assim o Estado plenos poderes sobre os bens de
produção e a própria produção. O capitalismo dirigia sua economia dando grande liberdade à
iniciativa privada, podendo os cidadãos ter seus próprios meios de produção – indústrias, máquinas,
terrenos, empresas, associações – e podendo também negociar livremente esses bens em proveito
próprio. Historicamente, o capitalismo soube se adaptar e assim se firmou definitivamente como um
sistema político-econômico; e o socialismo-comunismo histórico russo não soube se adaptar e
implodiu.
No sistema comunista puro, o Estado era fortíssimo: dominava tudo e não dava liberdade
aos cidadãos – nem liberdade religiosa, nem liberdade cultural e nem mesmo liberdade de
consciência. No sistema capitalista puro, o Estado era fraquíssimo: interferia muito pouco na
liberdade dos cidadãos, deixando-os livres para conquistar cada vez mais bens de produção e
acumular capitais – dinheiro, riquezas. No comunismo puro, sem nenhuma liberdade, a maioria dos
cidadãos era nivelada, todos vivendo de forma igual, mas com maior possibilidade de ter o
necessário para a vida. No capitalismo puro, com grande liberdade de ação, foram os indivíduos de
maior poder aquisitivo e também político que cresceram e se enriqueceram, muitas vezes pisando e
explorando os outros, geralmente os mais fracos. O comunismo puro tinha muita justiça social, mas
pouquíssima liberdade. O capitalismo puro tinha muita liberdade, porém pouquíssima justiça social.
No final, ambos são injustos.
Com a queda do comunismo na União Soviética, o capitalismo se tornou o único modelo de
economia, considerando-se vencedor, correto, eficiente e justo. Mas como muitas vezes foi
explorador, cruel, excludente, injusto e por isso denunciado como “capitalismo selvagem”, ele
agora se chama “economia de mercado”, a fim de esconder seu rosto real. Liderado pelos Estados
Unidos, tal economia se alastra pelo planeta, promovendo o enriquecimento e o consumo global.
Exatamente por isso se fala de globalização. É a globalização, mundialização ou expansão da
economia de mercado, a nova cara do capitalismo. Todos têm liberdade para produzir e consumir.
Teoricamente, todo o mundo é livre para entrar nesse mercado e usufruir seus bens. Na prática, porém, entra nesse mercado só quem tem poder econômico. Quem não consegue entrar, fica
excluído.
O que tudo isso tem a ver com Igreja? Tem muito, muito mesmo a ver, pensar, refletir, falar
e agir. Infelizmente, grande parte dos cristãos católicos não liga para essas coisas. Por ignorância ou
por comodismo. Isso é um erro grave, um pecado social. Pecado de omissão diante do maior pecado
do mundo de hoje.
A Igreja, seguidora do exemplo de Jesus Cristo, sempre se preocupou com a realidade
concreta de seus fiéis. Jesus condenou a riqueza que causa injustiça. Os Santos Padres condenaram
os ricos exploradores. Nos tempos modernos, a Doutrina Social da Igreja, por meio das encíclicas
sociais, elaborou seu ensinamento sobre os problemas sociais. Sobretudo a partir de 1891, com a
Carta encíclica do Papa Leão XIII – Rerum novarum: das coisas novas –, os Papas e Bispos
pronunciaram sua palavra profética diante das guerras, das diversas injustiças e dos erros da
sociedade, principalmente de seus governantes e das classes mais abastadas. A Igreja sempre olhou
criticamente tanto para o socialismo puro como para capitalismo puro, porque ambos não
promovem o ser humano na sua dignidade e integridade e ambos cometem injustiças. Atualmente, a
Igreja alerta para as ambiguidades da globalização.
Dom Volodemer Koubetch, OSBM
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